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segunda-feira, 29 de abril de 2019

A TRINDADE

A. A TRINDADE EM GERAL. A Bíblia nos ensina que o Deus único subsiste em três Pessoas. Decididamente esta é uma doutrina de revelação especial, doutrina que não se revela na natureza, e não pode ser descoberta pela razão humana.

1- A EXPOSIÇÃO DA DOUTRINA. Deus é uno em seu ser essencial, mas nesse único ser há três pessoas, chamadas Pai, Filho e Espírito Santo. Essas pessoas não são, no entanto, como tantas pessoas entre os homens, três indivíduos inteiramente separados e distintos. Antes, são três modos ou formas em que existe a essência divina. Ao mesmo tempo, deve-se ter em mente que essas autodistinções no ser divino são de natureza tal que podem entrar em relações pessoais. O Pai pode falar ao Filho e enviar o Espírito Santo. O mistério real da Trindade consiste em que as três pessoas são um em seu ser essencial. E isso não significa que a essência divina está dividida entre as três pessoas. Ela está inteiramente, com todas as suas perfeições, em cada uma das pessoas, e não tem existência fora ou à parte delas. Além disso, em seu ser essencial, as pessoas não estão subordinadas umas às outras. Pode-se dizer, no entanto, que na ordem de existência o Pai é o primeiro, o Filho, o segundo, e o Espírito Santo, o terceiro, e essa ordem se reflete também na obra da criação e da redenção. As três pessoas se distinguem por certas distinções pessoais: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai e o Espírito Santo procede tanto do Pai como do Filho. Esta doutrina é um dos grandes mistérios da fé, e por isso está muito além de nossa compreensão humana.
2. PROVA ESCRITURÍSTICA DA TRINDADE.

a) No Antigo Testamento. Alguns são de opinião que o Antigo Testamento não contém quaisquer indicações da Trindade, mas isso não é correto. Há passagens que indicam que há mais de uma pessoa em Deus, como por exemplo, quando Deus fala de si no plural (Gn 1.26; 11.7), quando o anjo de Jeová é apresentado como uma pessoa divina (Gn 16.7-13; 18.1-21; 19.1-22), e quando fala do Espírito como uma pessoa distinta (ls 48.16; 63.10). Além disso, há algumas passagens em que as três pessoas são mais ou menos claramente indicadas (Is 48.16; 61.1; 63.9-10).

b) No Novo Testamento. É perfeitamente natural que as provas neotestamentárias fossem mais claras que as do Antigo Testamento, uma vez que ele registra a encarnação do Filho de Deus e o derramamento do Espírito Santo. Há diversas passagens em que as três pessoas são expressamente mencionadas, como no batismo de Jesus (Lc 3.21-22), nos sermões de despedida de Jesus (Jo 14.16), na grande comissão (Mt 28.19), na bênção apostólica (2Co 13.13), e também em outras passagens (p.ex., Lc 1.35; 1Co 12.4-6 e 1Pe 1.2).
3. APRESENTAÇÕES ERRÔNEAS DA TRINDADE. Na igreja cristã primitiva, alguns falaram das três pessoas da Trindade como três seres divinos distintos, praticamente três deuses. Os sabelianos consideravam as três pessoas meramente como modos de ação ou manifestação divina, que Deus sucessivamente assume, revelando-se como Pai na criação e na transmissão da lei, como Filho na encarnação, e como Espírito Santo na regeneração e santificação. Assim, as três pessoas eram reduzidas a uma. Paulo de Samósata, os socinianos da época da Reforma e os unitaristas e modernistas do presente, todos representam a Trindade como consistindo em Deus o Pai, o homem Jesus Cristo, e a influência divina que é chamada o Espírito de Deus. Essa opinião também representa Deus como um, não só no ser, mas também em pessoa, e com isso praticamente destrói a Trindade.

B. AS TRÊS PESSOAS CONSIDERADAS SEPARADAMENTE

1. O PAI. Na Escritura, o nome "Pai", quando aplicado a Deus, não é usado sempre no mesmo sentido. Pode indicar o Deus Trino (a) como a origem de todas as coisas criadas (1Co 8.6; Ef 3.14-15; Hb 12.9; Tg 1.17); (b) como Pai da nação escolhida de Israel (Dt 32.6; Is 63.16; 64.8; Jr 3.4; Ml 1.6; 2.10); e (c) como Pai dos crentes como seus filhos espirituais (Mt 5.45; 6.6-15; Rm 8.15; Do 1.3). Num sentido muito mais fundamental, contudo, o nome Pai se aplica à primeira pessoa da Trindade na sua relação com a segunda pessoa (Jo 1.14,18; 5.17-26; 8.54; 14.12-13).
Essa é a Paternidade original de Deus, da qual toda paternidade terrena é apenas um reflexo pálido. A propriedade distintiva do Pai é que ele gera o Filho desde a eternidade. Embora as outras pessoas também delas participem, certas obras são particularmente atribuídas ao Pai, tais como o planejamento da obra da redenção, as obras da criação e da providência e a obra de representar a Trindade no Conselho da Redenção.

2. O FILHO. A segunda pessoa da Trindade chama-se "Filho" ou "Filho de Deus". Contudo, esse nome não lhe é aplicado sempre no mesmo sentido. Considerado puramente a segunda pessoa da Trindade, ele é chamado "Filho" por causa de sua geração eterna pelo Pai (Jo 1.14,18; 3.16,18; Gl 4.4). Ele também tem esse nome como o Filho encarnado de Deus num sentido oficial, para designá-lo como o Messias escolhido de Deus (Mt 8.29; 27.40; 26.63; Jo 1.49; 11.27). E, finalmente, ele é chamado o "Filho de Deus", pelo menos em uma passagem, em virtude de ter sido no seu nascimento gerado pela operação especial do Espírito Santo (Lc 1.32,35). Em relação ao Filho, os seguintes pontos merecem atenção particular:

a) Sua geração eterna. A propriedade pessoal do Filho é que ele é eternamente gerado pelo Pai. A doutrina da geração do Filho é naturalmente sugerida pelo fato de que a Bíblia apresenta a primeira e a segunda pessoas da Trindade como tendo a relação mútua de Pai e Filho, e está ainda baseada em três passagens (Sl 2.7; At 13.33 e Hb 1.5). Por meio dessa geração, o Pai não produz a natureza essencial do Filho, mas toma-se a causa da subsistência pessoal do Filho - um segundo modo de existência -, dentro do ser divino. Essa geração do Filho não deveria ser considerada um ato concluído no passado, mas um ato necessário, e por isso eterno, do Pai. É eterno, continuando sempre e, todavia, sempre completo.

b) A divindade do Filho. A divindade do Filho é negada por: diversas seitas da igreja cristã primitiva, por uma hoste de estudiosos liberais durante os dois últimos séculos e pelos unitarianos e os verdadeiros modernistas e humanistas do presente. Ela só pode ser negada, contudo, se o testemunho explícito da Palavra de Deus for desconsiderado. Há passagens que afirmam expressamente a divindade do Filho (Jo 1.1; 20.28; Rm 9.5; Fp 2.6; Tt 2.13; 1Jo 5.20, entre outras). Além disso, nomes divinos são aplicados a ele (Jr 23.5-6; Jl 2.32 [cf. At 2.21]; Is 9.6; 1Tm 3.16); atributos divinos lhe são conferidos (Is 9.6; Ap 1.8;; Mt 18.20; 28.20;.Jo 2.24-25; 21.17; Fp 3.21; Ap 1.8); obras divinas são feitas por ele (Mt 9.2-7; Lc 10.22; Jo 1.3, 10; 3.35; Ef  1.22; CI 1.17; Hb 1.10-12; Fp 3.21; Jo 5.22,25-30); e honra divina lhe é atribuída (Jo 5.22-23; 14.1;1Co 15.19; 2Co 13.13; Hb 1.6).

c) As obras mais particularmente atribuídas ao Filho. A ordem de existência das pessoas da Trindade se reflete na ordem de suas obras. Se todas as coisas procedem do Pai, procedem por meio do Filho. Se o primeiro é a causa final, o último é a causa mediadora de tudo, tanto na criação como na redenção. Todas as coisas são criadas e mantidas por meio do Filho (Jo 1.3,10; Hb 1.2-3). Ele é a luz que, vinda ao mundo, ilumina todos os homens (Jo 1.9). Mais particularmente, a obra da redenção é levada a efeito pelo Filho na sua encarnação, no seu sofrimento e na sua morte (Ef 1.3-14).
3.  O ESPÍRITO SANTO. Com referência ao Espírito Santo, os seguintes pontos exigem consideração especial:
a) A pessoalidade do Espírito Santo. Não é tanto a divindade, mas a pessoalidade do Espírito Santo que é questionada por muitos. É negada por diversos sectaristas da igreja primitiva, pelos socinianos do tempo da Reforma, pelos unitaristas e pelos modernistas, e todas as espécies de sabelianos do presente. Eles preferem considerar o Espírito Santo meramente como um poder ou influência de Deus. Todavia, ele é claramente designado como pessoa (Jo 14.16,17-26; 15.26; 16.7-15; Rm 8.26). Características pessoais lhe são atribuídas, tais como inteligência (Jo 14.26; 15.26; Rm 8.16), afeição (Is 63.10; Ef 4.30), e vontade (At 16.7; 1Co 12.11). Além disso, ele executa atos próprios de uma pessoa, como falar, sondar, testificar, mandar, revelar, agir no homem, interceder (Gn 1.2; 6.3; Lc 12.12; Jo 14.26; 15.26; 16.8; At 8.29; 13.2; Rm 8.11; 1Co 2.10-11). Finalmente, há passagens em que o Espírito Santo é distinto de seu próprio poder (Lc 1.35; 4.14; At 10.38; Rm 15.13; 1Co 2.4).
b) A relação do Espírito Santo com as outras Pessoas da Trindade. Embora fosse afirmado anteriormente, com base em João 15.26, que o Espírito Santo procede do Pai, foi só no ano de 589 d.C. que a igreja ocidental adotou oficialmente a posição de que ele procede também do Filho. Essa doutrina baseia-se no fato de que o Espírito é também chamado o Espírito de Cristo e do Filho (Rm 8.9; GI 4.6), e dele é dito ter sido enviado por Cristo (Jo 15.26; 16.7). Pelo fato de proceder do Pai e do Filho, o Espírito Santo permanece na relação mais íntima possível com as outras Pessoas.
Ele perscruta as coisas profundas de Deus (1Co 2.10-11), e até certo ponto se identifica com Cristo (2Co 3.17). No Espírito, o próprio Cristo volta para os discípulos (Jo 14.16-18). Além disso, nas epístolas de Paulo algumas vezes é Cristo, algumas vezes o Espírito de Deus de quem é dito habitar nos crentes (Rm 8.9-10; Gl 2.20; 2Co 3.16).
c) A divindade do Espírito Santo. A divindade do Espírito Santo pode ser estabelecida pela Escritura por uma sequência de provas semelhantes à que foi empregada em relação ao Filho. Nomes divinos lhe são dados (At 5.3-4; 1Co 3.16; 2Tm 3.16); as perfeições divinas lhe são atribuídas (SI 139.7-10; is 40.13-14; 1Co 2.10-11; 12.11; Rm 15.19; Hb 9.14); as obras divinas são executadas por ele (Gn 1.2; Jó 26.13; 33.4; SI 104.30; Jo 3.5-6; Tt 3.5; Rm 8.11); e honra divina lhe é atribuída (Mt 28.19; Rm 9.1; 2Co 13.13).
d) As obras mais particularmente atribuídas ao Espírito Santo. Há certas obras que, embora sejam do Deus Trino, são mais particularmente atribuídas ao Espírito Santo. Em geral, pode-se dizer que é tarefa especial do Espírito levar a obra de Deus à conclusão, tanto na criação como na redenção. Na esfera natural, ele gera a vida e põe assim o toque final na obra da criação (Gn 1.3; Jó 26.13; SI 33.6; 104.30); e ele inspira e qualifica os homens para tarefas especiais (Êx 28.3; 31.2-3,6; 35.35; 1Sm 11.6; 16.13-14). E, na esfera da redenção, prepara e qualifica Cristo para a obra redentora (Lc 1.35; 3.22; Jo 3.34; Hb 10.5-7). Ele inspira a Escritura (1Co 2.13; 2Pe 1.21), forma e aumenta a igreja, habita nela como o princípio da nova vida (Ef 1.22-23; 2.22; 1Co 3.16; 12.4ss), e ensina e guia a igreja, conduzindo-a em toda a verdade (Jo 14.26; 15.26; 16.13-14; At 5.32; Hb 10.15; 1Jo 2.27).
PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO:
1.   A doutrina da Trindade pode ser descoberta na natureza?
2.   Como as três pessoas em Deus diferem de três pessoas entre os homens?
3.   Há qualquer subordinação das pessoas em Deus?
4.   Como podemos provar a Trindade no Antigo Testamento?
5.   E no Novo Testamento?
6.   Contra que erros se deve guardar quanto a esse erro?
7.   Em quantos sentidos diferentes o nome “Pai” é aplicado a Deus?
8.   Que obras são especialmente atribuídas ao Pai?
9.   Em quantos sentidos diferentes o nome “Filho” é aplicado a Cristo?
10.A geração do Filho é um ato concluído no passado?
11.Quais são as obras especialmente atribuídas ao Filho?
12.Como se pode provar a divindade do Filho e do Espírito Santo?
13.Como se pode provar que o Espírito Santo é uma pessoa e não meramente um poder ou influência?
14.Como o Espírito Santo se relaciona com as outras pessoas da Trindade?
15.Quais são as obras especialmente atribuídas ao Espírito Santo?
  16. Quais são as propriedades características do Pai, do Filho e do Espírito Santo?

Do Livro: Manual de Doutrina Cristã, Louis Berkhof - Ed. Cultura Cristã.

OS ATRIBUTOS DE DEUS (2)

1.  A SANTIDADE DE DEUS. A santidade de Deus é, em primeiro lugar, aquela perfeição divina pela qual ele é absolutamente distinto de todas as suas criaturas, bem como exaltado acima delas em majestade infinita. Esse é o significado em Êxodo 15.11; 1Samuel 2.2; Isaías 57.15; Oseias 11.9. Temos em mente aqui, porém, mais particularmente a santidade ética de Deus, que consiste em sua separação do mal moral, isto é, do pecado. Conquanto a ideia fundamental dessa santidade seja a de separação, indica também algo positivo, a saber, a excelência moral ou a perfeição ética de Deus. Em sua presença, o homem sente-se oprimido com a consciência do pecado (Jó 34.10; Hc 1.13; Is 6.5).
Pode ser definida como aquela perfeição de Deus em virtude da qual ele eternamente determina e mantém sua própria excelência moral, aborrece o pecado e exige pureza de suas criaturas morais.
2.  A RETIDÃO DE DEUS. Esse atributo de Deus está intimamente relacionado com o anterior. É aquela perfeição de Deus pela qual ele se mantém contra toda violação de sua santidade, e mostra em todos os aspectos que ele é o santo. Dela devem ser distinguidos diferentes aspectos:
a)  Justiça regencial. É a retidão que Deus manifesta como soberano tanto dos bons como dos ímpios. Em decorrência dessa justiça, ele instituiu um governo moral no mundo, e impõe ao homem uma lei justa, com promessas de recompensa para o obediente e ameaças de castigo para o desobediente (Sl 99.4; Is 33.22; Rm 1.32).
b)   Justiça remunerativa. Essa justiça manifesta-se na distribuição de recompensas tanto aos homens como aos anjos (Dt 7.9,12-13; Sl 58.11; Mq 7.20; Rm 2.7; Hb 11.26). É realmente uma expressão do amor divino, distribuindo suas bondades, não estritamente com base no mérito, mas de acordo com a promessas e entendimento (Lc 17.10; 1Co 4.7)
c)  Justiça retributiva. Essa justiça relaciona-se com a aplicação de penalidades, e é uma expressão da ira divina. Num mundo sem pecado não haveria lugar para o seu exercício, mas num mundo cheio de pecado, ela tem necessariamente um lugar muito proeminente. Enquanto a Bíblia acentua a recompensa dos retos mais do que o castigo dos ímpios, mesmo esse último é distintamente realçado na Escritura (Rm 1.32; 2.9; 12.19; 2Ts 1.8).
3.  A VERACIDADE DE DEUS. A veracidade de Deus pode ser descrita como aquela perfeição em virtude da qual ele é verdadeiro em seu ser íntimo, em sua revelação e em sua relação com o seu povo. Implica que ele é o Deus verdadeiro em contraste com os ídolos que são mentira e vaidade; que ele conhece as coisas como realmente são e também habilita o homem a conhecer a realidade das coisas; que cumpre fielmente todas as suas promessas pactuais. Esse último aspecto da veracidade de Deus é usualmente chamado fidelidade. É a base da confiança de seu povo, o fundamento de sua esperança e a causa do seu regozijo (Nm 23.19; 1Co 1.9; 2Tm 2.13; Hb 6.17; 10.23).
4.    A SOBERANIA DE DEUS. Sob este tópico geral consideramos a vontade soberana de Deus, ou sua soberania em planejar e dirigir os negócios do mundo e de suas criaturas racionais; e o poder soberano de Deus, sua onipotência, ou a soberania de Deus em executar a sua vontade.
a) A vontade soberana de Deus. A vontade soberana de Deus se apresenta na Escritura como a causa final de todas as coisas: da criação e da preservação (Ap 4.11), do governo (Pv 21.1; Dn 4.35; Ef 1.11), dos sofrimentos de Cristo (Lc 22.42; At 2.23), da eleição e reprovação (Rm 9.15-16), da regeneração (Tg 1.18), da santificação (Fp 2.13), dos sofrimentos dos crentes (1Pe 3.17), da vida e do destino do homem (At 18.21; Rm 15.32; Tg 4.15), e até das menores coisas da vida (Mt 10.29).
1)  A vontade secreta e a vontade revelada de Deus. Várias distinções se aplicam à vontade de Deus, das quais a mais comum é aquela entre a sua vontade secreta e a vontade revelada. A primeira é a vontade dos decretos, que está em grande parte oculta em Deus, enquanto a última é a vontade de seus preceitos, que se revela nu lei e no evangelho. Essa distinção baseia-se em Deuteronômio 29.29. A vontade secreta de Deus é mencionada em Salmos 115.3; Daniel 4.7; Romanos 9.18-19; 11.33-34; Efésios 1.5,9,11; e sua vontade revelada em Mateus 7.21; 12.50; João 4.34; 7.17; Romanos 12.2. A primeira pertence a todas as coisas que Deus determina efetuar ou permitir, por isso são absolutamente certas. A última faz referência aos deveres que Deus prescreve ao homem; representa a maneira pela qual o homem pode gozar a bênção divina, e é frequentemente frustrado.
2)  A liberdade da vontade de Deus. Há certas coisas que Deus necessariamente determina. Ele não pode deixar de amar a si mesmo e deleitar-se com a contemplação de suas próprias perfeições. E não está, todavia, sob nenhuma compulsão mesmo nisso, mas age de acordo com a lei do seu ser íntimo.
Nenhuma dessas necessidades caracteriza a vontade de Deus com referência às suas criaturas. Deus escolhe voluntariamente o que e quem ele criará, e os tempos, os lugares e as circunstâncias de suas vidas. Ele marca os caminhos de todas as suas criaturas racionais, determina-lhes seu destino, e as usa para o seu propósito. E embora ele as dote de liberdade, sua vontade, controla-lhes as ações. A Bíblia fala da liberdade da vontade de Deus nos termos mais absolutos (Jó 11.10; 33.13; SI 115.3; Pv 21.1; Is 10.15; Mt 20.15; Rm 9.15-18; Ap 4.11).
3)  A vontade de Deus com relação ao pecado. Surgem sérios problemas sobre a relação da vontade de Deus com o pecado. Se Deus planejou todas as coisas, então planejou também a entrada do pecado no mundo. Isso não o torna o autor do pecado? Deve-se ter em mente, contudo, que Deus não decide, ele mesmo, efetuar o pecado, nem procura eficazmente sua comissão. Ele decretou permitir que suas criaturas racionais pecassem, tornando certa, com isso, a entrada do pecado no mundo, sem ele mesmo tornar-se o seu autor. Essa explicação da questão não resolve o problema inteiramente, mas salvaguarda a ideia da pureza moral de Deus. Outro problema origina-se da relação mútua entre a vontade secreta e a revelada. Às vezes, é dito serem contraditórias. Sua vontade secreta compreende muitas coisas que ele proíbe, e exclui muitas coisas que ele ordena em sua vontade revelada (Gn 22; Êx 4.21-23; 2Rs 20.1-7). Deus decretou que os judeus deviam crucificar Jesus; todavia, ao fazer isso, contrariaram a vontade revelada de Deus (At 2.23). Deve-se ter em mente, contudo, que ao fazer a distinção em pauta estamos usando a palavra "vontade" em dois sentidos diferentes. Por sua vontade secreta, Deus determinou o que ele fará ou o que acontecerá; por outro lado, em sua vontade revelada, ele nos revela o que devemos fazer. Além disso, a situação não é tal que de acordo com sua vontade secreta ele se deleita com o pecado, e de acordo com sua vontade revelada ele não se deleita com o pecado. O fato de ele ter decretado que o pecado entraria no mundo não dá a entender que ele tenha prazer nele.
b)   O poder soberano ou a onipotência de Deus. A soberania de Deus também encontra expressão no poder divino ou onipotência, o poder para executar sua vontade. A onipotência de Deus não deve ser entendida como afirmando que Deus pode fazer tudo. A Bíblia nos ensina que há muitas coisas que' Deus não pode fazer. Ele não pode mentir, pecar, transformar-se e nem negar a si mesmo (Nm 23.19; 1Sm 15.29; 2Tm 2.13; Hb 6.18; Tg 1.13,17). Os escolásticos erraram quando ensinaram que ele podia fazer toda espécie de coisas que são inerentemente contraditórias e podia até mesmo aniquilar-se. É mais correto dizer que, em virtude de sua onipotência, Deus pode, pelo mero exercício de sua vontade, realizar tudo que ele decidiu levar a cabo. E se ele assim desejasse, ele poderia fazer mais do que realmente faz acontecer (Gn 18.14; Jr 32.27; Zc 8.6; Mt 3.9; 26.53). A onipotência de Deus encontra expressão no nome El-Shaddai, e é claramente mencionada em diversas passagens da Escritura (Jó 9.l2; SI 115.3; Jr 32.l7; Mt 19.26; Lc 1.37; Rm 1.20; Ef 1.19).

PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO
  1. Como se dividem os atributos de Deus?
  2.  Quais deles pertencem a cada uma dessas classes?
  3.  O que é a independência de Deus? E sua imutabilidade?
  4.  Corno se pode explicar que a Bíblia aparentemente atribui mudança a Deus?
  5. O que é a eternidade e a imensidade de Deus?
  6. Como se pode provar a simplicidade de Deus?
  7. Qual a natureza e a extensão do conhecimento de Deus?
  8. Como a sua sabedoria se relaciona com o seu conhecimento?
  9. O que é a bondade de Deus, que outros nomes são usados para ela?
  10. Deve-se dizer que o amor é o atributo central de Deus?
  11. Como se distinguem a graça, a misericórdia e a longanimidade de Deus?
  12. O que é a santidade de Deus?
  13. Quais os vários aspectos da retidão de Deus?
  14. O que está incluído na veracidade de Deus?
  15. Que distinção se aplica à vontade de Deus?
  16. Sua vontade é livre, ou necessária?
  17. O decreto de Deus o toma o autor do pecado?
  18. A vontade secreta de Deus e a revelada estão em conflito?
   19. A onipotência de Deus dá a entender que ele pode fazer tudo?

Do Livro: Manual de Doutrina Cristã, Louis Berkhof - Ed. Cultura Cristã.